Ma.De (Material Designers) é um projeto, um concurso e uma plataforma digital para promover o impacto positivo dos designers de materiais nos setores criativos ajudando a promover a economia circular. Tem acontecido da seguinte forma: 6 workshops pela Europa durante 1 semana, cada um com 20 participantes. Com o total de 120 participantes, cada um desenvolve seu próprio material, e ao final, dentre os 120 materiais, 3 serão escolhidos para serem desenvolvidos e haverá uma exposição de alguns dos 120 materiais, além disso será criada uma área no site para consulta dos materiais e receitas.
Entre os dias 11 e 15 de Junho, em Barcelona, na Catalunha, pude participar de um dos workshops oferecidos e desenvolver o meu material. Com algumas palestras e uma estrutura de laboratório/cozinha experimental, ficamos durante 5 dias, de 9h as 17h imersos, trocando, criando e experimentando novos materiais. Lá conheci pessoas incríveis que pensam e estudam materiais em níveis bem diferentes, alguns já profissionais no mercado, outros em seus primeiros testes e alguns que estudavam o assunto mas nunca haviam colocado a mão na massa.
Venho trabalhando com os bioplásticos de fécula de mandioca há algum tempo e lá, como tínhamos que escolher um material para desenvolver eu escolhi a base de mandioca que já estava acostumada e tinha minhas receitas e proporções estudadas com elementos de coleta da viagem, que acabou por sendo uma árvore específica, a Plátanos Espanica, uma árvore que tem por todo lado nas ruas e estradas da Europa e que absorve grande quantidade de carbono do ar, auxiliando na melhora da qualidade do ar na cidade, mas só descobri isso depois de coletar os lindos frutos redondos e as cascas que se soltam como as do eucalipto, além de algumas folhas secas que já estavam no chão. Da exploração dos elementos dessa árvore (sem agredí-la de nenhuma maneira) surgiram diversos materiais com diferentes texturas, características e possibilidades.
Da casca, inteira e triturada surgiram dois materiais completamente diferentes um do outro. Um com textura literal de casca, outra com textura áspera, semelhante a uma lixa e aparência interessante que lembra uma cortiça ou uma lixa mesmo. Da folha, o mais interessante foi o não tão triturado, percebia-se que era uma folha pela cor e aspecto mas não víamos a forma da folha. Do fruto e semente, muitos subprodutos interessantes, o mais diferente deles foi a “rede” que havia em volta do fruto e que decidi por manter inteiro pela beleza e delicadeza da estrutura. As painas, que vinham grudadas na semente formaram um bioplástico flexível e macio. Já os fruto triturados formaram um bioplástico rígido e denso, mais forte mas mais quebrável ao mesmo tempo.
No terceiro dia de workshop tivemos uma palestra com Clara Guasch, que trabalha com inovação e materiais na IKEA, a palestra foi sobre a fibra do cânhamo, que é uma das promessas materiais do futuro por ser extremamente adaptável e resistente ao ambiente e possuir uma fibra super macia e forte, se comparada com as fibras naturais como o algodão e o linho. Além das informações valiosas ela levou vários tipos de fibras retiradas do cânhamo, dentre eles o resto da produção da fibra, e foi a parte desperdiçada da produção a que mais me atraiu. Com a minha receita de fécula de mandioca, misturei os restos da produção da fibra e o resultado foi surpreendente. Quando seco, possui uma textura lisa, um pouco áspera e flexível, com uma força que faz com que seja muito difícil de ser cortada/ rasgada com as mãos. Ao molhar não desmancha e ainda possui uma translucidez bonita e delicada, apesar do aspecto geral ser natural e bruto.
Dentre os materiais dos participantes alguns me chamaram mais atenção e dentre eles as posidonias do andres, os foams de ayna, martin e fanny, os graos de bico da paula, o trabalho da Ioana, com pequenos arranjos, e as ostras do Mateo.
Além do workshop em Barcelona tive a oportunidade de visitar o Laboratorio da Emma Van der Leest, biodesigner; fundadora e diretora do BlueCity Lab que fica em Rotterdam, na Holanda em uma piscina abandonada que esta sendo reformada. Lá é o lar de por enquanto 30 startups e iniciativas relacionadas a nova economia e economia circular e inovações em diversas área, como da biologia, tecnologia, design e até alimentos inovadores como a pasta de spirulina e o couro de manga. Conheci a Emma em uma residência no Laboratorio do Amanhã (no Museu do Amanhã) em que ela apresentou o trabalho dela no laboratório e a pesquisa de graduação em design que tinha como objetivo entender as possibilidades do slime mold dentro da area das artes e do design, hoje em dia além de dirigir o laboratório ela movimenta pesquisas nas áreas de arte, design, tecnologia e biologia.
Visitar o laboratório e ver todas essas pesquisas rolando foi incrível, e ainda conhecer a universidade Willem de Kooning Academy, que tem a Aldje como coordenadora do departamento de design de produto, que também estava presente na residência do Museu do Amanhã, “superficies respiráveis”. Para fechar a viagem com chave de ouro, fui com a Emma e outras pessoas do BlueCity Lab a uma exposição chamada “Nature” no CUBE design museum, em que diversos projetos de arte e design na área de inovação e natureza estavam expostos. Incrível e inspirador.