A exploração do lugar dentro da imagem com base na pesquisa “Espectrais” da artista pesquisadora Sofia Reis, desenvolvida no laboratório NANO.
Espectrais é uma pesquisa que consiste na captura do corpo em ambientes noturnos, através da técnica da longa exposição que reflete na modificação e distorção do corpo por meio do auxílio de luzes que se utiliza para iluminar o ambiente, resultando em imagens surreais e abstratas.
Para começo de conversa, o que se encontra aqui é uma série de pensamentos e devaneios contadas de forma linear que acompanham o desenvolvimento das séries fotográficas dessa pesquisa, e o primeiro lugar que iremos olhar é a relação do corpo com o ambiente e de como ocorreu os processos de exploração.
A exploração do lugar foi um dos primeiros questionamentos no começo da pesquisa, criou uma faísca de como reconhecer o espaço por onde o corpo percorre, perceber esse território e se predispor nessa zona. Partindo disso, foi pensado em como traduzir essas coisas pra fotografia, surgindo as primeiras ideias, como uma séries de autorretratos: “Rastros”, 2022, feitas na zona rural da cidade de Estiva – MG.
Nessa série podemos perceber as possibilidades da fotografia noturna em meio a natureza, o corpo se tornou um fantasma vagando pelo local, atravessou as paredes como uma luz.
Os espaços são como casulos em que o corpo penetra com a luz e atinge uma metamorfose no seu interior, a luz transcende o corpo e o lugar, através dos reflexos gerados e das abstrações do corpo. No momento em que essa passagem é capturada, também capturamos um encontro e desencontro de corpo, são imagens que representam uma circularidade, um tempo não-linear.
Além de retratar sentimentos e sensações, a arte é também um resgate do território em que o corpo cresce. E os seus significados se reinventam a cada dia, surgindo algumas questões: Como firmar a relação das fotos com o local? Como se conectar com esse lugar longe? E assim essas questões vão ganhando forma através da busca de memória, um exemplo disso são os momentos de infância onde a criança explora as trilhas, as florestas e o que estava ao seu redor, com isso conseguimos compreender como o corpo se comporta em meio a natureza, como ele se desdobra e entende o local que está adentrando. O corpo vira uma extensão da natureza.
O segundo momento foi feito na praia do Arpoador, o ambiente na praia era um grande mar escuro e sem fim, o reflexo na areia criava uma camada de mistério no ar, quando o corpo era fotografado nesse espelho natural ele se estendia para fora dele, criando uma ilusão de ótica, não dava pra saber o que era em cima e o que era embaixo, o que era céu e o que era mar, os dois se fundiram, o movimento das ondas foram capturados pela câmera resultando em um mar de nuvens que invadiam os corpos na areia. Esse momento resultou nas fotografias abaixo, a areia e as ondas se transformam em fumaça, em crateras e em abismos de luz que foram desvendadas, as cores também tem seu potencial, os verdes tiram a realidade do mar, o azul transforma o mar em céu escuro, os amarelos e vermelhos remetem a algo mais relacionado com a terra, um planeta distinto, e por fim o preto e branco unifica todas essas cores, deixando a escuridão dominar todo o plano e apenas faíscas conseguem sobreviver e sobrepor esse mar, o corpo é quase um vulto, um ser marítimo que nasce da água.
“O mundo ao meu redor voa e eu não tenho controle dos meus pés, nem da minha cabeça, nem das minhas mãos e muito menos do meu coração. Sinto que tenho muitas coisas pra mostrar mas tenho medo de ser atingido por meteoros em alta velocidade que percorrem o mundo. Perigosas estrelas que brilham por segundos em frente a nossa retina e invadem o céu, essas estrelas possuem nomes específicos e sinto medo de ser atingida por elas, mas esse é o risco que corro sendo um viajante do espaço.
Confesso que gostava mais de caçar estrelas quando criança, sempre ia no quintal de casa depois do despertador tocar às 3 horas da manhã, quem me acompanhava nessa caça era meu pai. Um momento de silêncio sempre pairava no ar e logo depois um grito ecoava no quintal “vi uma!!!!!” e mais uma, e outra e mais outra até o pescoço cansar. Parecia que o céu sugava toda a energia do corpo, principalmente da coluna até o pescoço, a boca entreaberta olhando pra cima incansavelmente. A energia se transportava praquele lugar escuro e misterioso que nos presenteava de tempos em tempos com as estrelas cadentes que realizavam nossos sonhos.
Penso em tudo que já pedi e no que pediria agora se voltasse a vê-las. Me sinto perdida nessa vastidão do céu, acho que pediria pra me encontrar, mas o que seria da vida sem os desencontros que me encontro agora? talvez me encontraria com a minha criança para que possamos caçar estrelas mais uma vez juntas.
Além de caçar estrelas eu caçava vagalumes e pirilampos, nossas estrelas terrenas que conseguimos capturar num potinho e tê-los só pra mim (não façam isso crianças deixem os pirilampos voarem livres para que encontrem suas estrelas pares) / gosto de capturar essas estrelas, elas ficam na imagem podendo guardá-las comigo como se fosse um presente”
“Tocando o céu” Olaria, março de 2023