No final de 2019, a convite e proposta da orientadora Malu Fragoso, iniciou-se o projeto de um vestível que será utilizado associado ao projeto S.H.A.S.T (Sistema Habitacional para Abelhas Sem Teto), como roupa de apicultura, ao invés das tradicionais roupas brancas de brim e capacetes quadrados de tela.
A proposta surge como uma tentativa de aproximação de apicultore das abelhas, tornando a roupa um atrativo para as mesmas, já que a ideia era aplicar a cera de abelha nesse vestível para ficar com um odor familiar e ver como as abelhas reagiriam à esse estímulo. Se, por estarem acostumadas com o cheiro, ignorariam e performer ou se se sentiriam atraídas demasiado e atacariam?
A cera é utilizada também para dar estrutura e forma ao tecido de algodão, permitindo possibilidades de textura impossíveis em um tecido normal.
Um primeiro teste foi feito no final de janeiro, com as abelhas Apis mellifera (abelhas que produzem mel) da fazenda “Sagrada família” da professora Malu, com o objetivo de validar o projeto através da observação das reações iniciais das abelhas ao entrar em contato (olfato, visão e tato) com o material encerado. Com isso verificamos a possibilidade de dar continuidade ao projeto, com o algodão encerado sendo utilizado como material principal da vestimenta para manuseio das abelhas.
Para esse teste foram usados tecidos com cera de abelha aplicada em toda extensão, e durante o teste foram feitos recortes e dobras. O tecido inteiro media 45×1,20cm. Foi necessário, por questões de segurança, a utilização de indumentária apícola completa, macacão branco com protetor de cabeça, luvas de couro e botas de borracha.
Segurando o tecido encerado, me aproximei da colmeia e aguardei a reação das abelhas; foi deixado também um pedaço de tecido em duas distâncias, próximo à colmeia (30cm) e na colmeia (junto a entrada).
O resultado desses primeiros testes com cera de abelha foi positivo. As abelhas não atacaram as peças de tecido enceradas e ainda, quando tiveram oportunidade (no material deixado junto a entrada) pegaram o material para si, puxando para dentro da colônia. Pelo que podemos perceber, não se sentiram ameaçadas, não haviam sinais de estresse.
Foram feitas ainda algumas observações para um próximo teste:
1. Usar algodão orgânico;
2. Fazer comparações entre o algodão puro x algodão com cera; e algodão escuro com cera x claro com cera;
3. Fazer os mesmos testes com outras abelhas
4. Começar os testes no corpo
Foram feitos ainda outros testes, diretamente com o material, pensando na capacidade de ganhar forma. Com calor foi possível moldar o tecido para fazer texturas e também dobras de origami. Para fazer a cera aderir ao tecido, utilizamos o tecido e a cera isolados da fonte de calor (ferro de passar roupa) com papel manteiga, e aquecemos até a cera entranhar nas fibras do tecido e ganhar rigidez.
Alguns testes utilizando dobras de origami foram feitos, e foi a técnica escolhida para compor o vestível. Tanto por permitir a mobilidade de performer/apicultore quanto por apresentar uma estética que se relaciona com o “nós abelhas” instalação também ligada ao projeto S.H.A.S.T.