A organização em contextos artísticos muitas vezes é subestimada ou tratada como um aspecto secundário, quase antagônico à liberdade criativa. No entanto, à medida que os projetos artísticos se tornam mais colaborativos, transdisciplinares e tecnologicamente complexos, a necessidade de sistematizar processos e documentar as etapas do fazer artístico torna-se inevitável. No laboratório, convergem práticas de arte, ciência e tecnologia, essa demanda por organização emerge de forma concreta. Ao lidar com múltiplos projetos simultâneos, equipamentos diversos, processos experimentais e um acervo em constante transformação, torna-se fundamental desenvolver formas de registro que garantam a continuidade, a rastreabilidade e a preservação dessas experiências.
“…é indispensável que os dados e as informações, matérias-primas do conhecimento, estejam organizados e disponíveis, adotando-se normas de arranjo e descrição uniformes e compreensíveis de seus acervos, para que se estabeleça um efetivo intercâmbio de ideias e de experiências.”
Marilena Leite Paes - Coordenadora do Conselho Nacional de Arquivos
A documentação artística não guarda somente obras concluídas e finalizadas. Pelo contrário, ela valoriza as etapas intermediárias, os esboços, os testes e até mesmo os erros – elementos muitas vezes tão significativos quanto o produto acabado. É nesse contexto que a organização passa a ser entendida como parte integrante da própria obra, como um gesto curatorial sobre a trajetória do processo. Ao pensar a organização como uma prática artística, também se amplia a noção de arquivo: não apenas como um local de armazenamento, mas como um espaço ativo de pensamento, memória e continuidade. Arquivar não é apenas conservar – é decidir o que deve ser lembrado, como deve ser descrito e de que forma estará acessível no futuro.

Como artistas, sabemos que um único objeto pode desempenhar múltiplas funções em trabalhos totalmente distintos. Em um espaço como o nosso laboratório, onde diferentes pessoas compartilham os mesmos materiais, o cuidado com o patrimônio se torna também um cuidado com quem o utiliza. Preservar o que temos é, assim, preservar o próprio fazer artístico. Cada pessoa e cada comunidade define a forma de organização que melhor atende às suas necessidades. O que pode parecer desorganizado para alguns, pode funcionar muito bem para outros. Nesse momento para o NANO, a organização física é fundamental, mas percebemos que a catalogação digital se torna indispensável à medida que cresce a necessidade de uma comunicação mais eficiente entre os integrantes. Ela nos permite saber com clareza o que está sendo utilizado e o que está disponível no laboratório.
Nesse contexto, ferramentas digitais como o Notion têm se mostrado aliadas essenciais. Sua flexibilidade permite criar bases de dados personalizadas, registrar processos em tempo real, mapear o uso de equipamentos e compartilhar informações com toda a equipe de maneira clara e acessível. Mais do que um simples repositório, ele se torna um espaço dinâmico de troca e memória viva do laboratório.

Ao integrar documentação, planejamento e comunicação em um único ambiente, o Notion ajuda a automatizar tarefas repetitivas, garantir a rastreabilidade das ações e preservar a riqueza dos processos criativos. Assim, ele não apenas organiza: ele potencializa o fazer artístico, tornando-se parte ativa da obra em construção.
Por fim, vale lembrar que esse é um trabalho em constante construção. Ainda há muitos materiais, processos e registros a serem catalogados, e seguimos testando diferentes formatos e metodologias para entender o que realmente funciona no nosso contexto. A organização, assim como a criação, é também um campo de experimentação: exige tempo, atenção e abertura para ajustes. Estamos desenvolvendo esse sistema de forma gradual, aprendendo com os usos cotidianos e escutando as necessidades que surgem no caminho.
Referência:
BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. Rio de Janeiro: FGV, 1991.