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Entre Registro e Processo: Conexões entre Arte, Organização e Documentação

A organização em contextos artísticos muitas vezes é subestimada ou tratada como um aspecto secundário, quase antagônico à liberdade criativa. No entanto, à medida que os projetos artísticos se tornam mais colaborativos, transdisciplinares e tecnologicamente complexos, a necessidade de sistematizar processos e documentar as etapas do fazer artístico torna-se inevitável. No laboratório, convergem práticas de arte, ciência e tecnologia, essa demanda por organização emerge de forma concreta. Ao lidar com múltiplos projetos simultâneos, equipamentos diversos, processos experimentais e um acervo em constante transformação, torna-se fundamental desenvolver formas de registro que garantam a continuidade, a rastreabilidade e a preservação dessas experiências.

“…é indispensável que os dados e as informações, matérias-primas do conhecimento, estejam organizados e disponíveis, adotando-se normas de arranjo e descrição uniformes e compreensíveis de seus acervos, para que se estabeleça um efetivo intercâmbio de ideias e de experiências.”

A documentação artística não guarda somente obras concluídas e finalizadas. Pelo contrário, ela valoriza as etapas intermediárias, os esboços, os testes e até mesmo os erros – elementos muitas vezes tão significativos quanto o produto acabado. É nesse contexto que a organização passa a ser entendida como parte integrante da própria obra, como um gesto curatorial sobre a trajetória do processo. Ao pensar a organização como uma prática artística, também se amplia a noção de arquivo: não apenas como um local de armazenamento, mas como um espaço ativo de pensamento, memória e continuidade. Arquivar não é apenas conservar – é decidir o que deve ser lembrado, como deve ser descrito e de que forma estará acessível no futuro.

Imagem produzida por Ste Fernandes
Ferramentas localizadas na oficina do laboratório

Como artistas, sabemos que um único objeto pode desempenhar múltiplas funções em trabalhos totalmente distintos. Em um espaço como o nosso laboratório, onde diferentes pessoas compartilham os mesmos materiais, o cuidado com o patrimônio se torna também um cuidado com quem o utiliza. Preservar o que temos é, assim, preservar o próprio fazer artístico. Cada pessoa e cada comunidade define a forma de organização que melhor atende às suas necessidades. O que pode parecer desorganizado para alguns, pode funcionar muito bem para outros. Nesse momento para o NANO, a organização física é fundamental, mas percebemos que a catalogação digital se torna indispensável à medida que cresce a necessidade de uma comunicação mais eficiente entre os integrantes. Ela nos permite saber com clareza o que está sendo utilizado e o que está disponível no laboratório.

Nesse contexto, ferramentas digitais como o Notion têm se mostrado aliadas essenciais. Sua flexibilidade permite criar bases de dados personalizadas, registrar processos em tempo real, mapear o uso de equipamentos e compartilhar informações com toda a equipe de maneira clara e acessível. Mais do que um simples repositório, ele se torna um espaço dinâmico de troca e memória viva do laboratório.

Página principal do Notion do Laboratório

Ao integrar documentação, planejamento e comunicação em um único ambiente, o Notion ajuda a automatizar tarefas repetitivas, garantir a rastreabilidade das ações e preservar a riqueza dos processos criativos. Assim, ele não apenas organiza: ele potencializa o fazer artístico, tornando-se parte ativa da obra em construção.

Por fim, vale lembrar que esse é um trabalho em constante construção. Ainda há muitos materiais, processos e registros a serem catalogados, e seguimos testando diferentes formatos e metodologias para entender o que realmente funciona no nosso contexto. A organização, assim como a criação, é também um campo de experimentação: exige tempo, atenção e abertura para ajustes. Estamos desenvolvendo esse sistema de forma gradual, aprendendo com os usos cotidianos e escutando as necessidades que surgem no caminho.

Referência:
BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. Rio de Janeiro: FGV, 1991.