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Parâmetros da Produção Desejante

Partindo da leitura de O Anti-Édipo, de Deleuze & Guattari, articulamos a consciência e conceituação de que existe um complexo jogo de códigos sociais vigentes que estruturam os parâmetros das produções desejantes. Esses são moldados dadas as variáveis de disposições  e configurações subjetivas delimitados por entidades como família, mídia, governo, cultura, igreja, instituições culturais e/ou acadêmicas, núcleos de pesquisa, etc. Considerados os possíveis elementos determinantes desses enquadramentos, eles operam de acordo com o funcionamento dos conjuntos aos quais se encontram atados, articulados e conectados; existindo de acordo com as vivências individuais e coletivas que a esses se agenciam, repercutem e se acoplam, estabelecendo vínculos de sentidos e lógicas entrelaçadas de produções e conexões que determinam seus valores, permanências e conservação histórica, social, cultural, econômica, etc. Logo, surge, para nós, a necessidade metodológica de delimitação, que seja, das estruturas prévias quais desejamos operar, engendrar e configurar nossas produções de sentido, narrativas e poéticas na presente pesquisa.

Aparece-nos, de imediato, um sistema aberto e expansivo, que procura abrangências ao extensivo, operando por conjuntos que delimitam significações de sentidos a diversidades intransigentes ou que caminhem para fatores cada vez mais independentes das especificidades culturais, nacionais e situadas quais encontram-se definindo, ou seja, abstraindo dos conjuntos a sua determinação. Outra possibilidade aproxima-se cada vez mais de uma micro-política dos afetos, desejos, e estruturas significantes ontológicas de demarcação de territórios existenciais. Nesse quesito, torna-se imprescindível que haja uma compreensão de que uma estrutura, menor que seja, não é independente de um macro ou médio sistema que rege os sentidos e as camadas ontológicas vigentes. Torna-se preciso que não apenas nos atentamos aos micro-conjuntos sem considerar suas conjunções macro-sociais, nem tampouco que tornemo-nos distantes a tal ponto de apenas considerar a macro-geografia sem levarmos em conta os sistemas situados quais operamos. Reconhecendo as implicações mútuas que nossas articulações tem para com o devir do mundo e como esse implica diretamente os significados de nossa vivência cotidiana e situada.

A questão, ou podemos até mesmo dizer, a guerra, é paramétrica. Pois, como operadores de máquinas, podemos estar articulando à compreensão, difusão e re-articulação dos regimentos de sentido narrativos e de significados que se dão nessas epistemes contemporâneas. E mesmo entre curadoria, museologia, mediação cultural, comunicação e estéticas, ou a partir da própria denominada produção artística nesses circuitos.1  Estamos trabalhando sobre uma síntese de pesquisa que nos põe a conhecer a partir de metodologias de conceituação, categorização e compreensão crítica dessas estruturas.2 para assim tornamo-nos aptos a com esta articular, engendrar sentidos, narrativas e operá-las.

Em vista de que? Aí entram os parâmetros ideológicos, políticos e estéticos com que trabalhamos. E nesse quesito, se por via de regras devemos conjecturar, ou mesmo por via de continuidade da produção aqui articulada, veriamos que, independente de seguir as lógicas dos autores estudados, certas condicionantes estão derivadas de preocupações com a massa/regência cultural de sentidos narrativos na sociedade.3 Nesse viés, portanto, se formos nos colocar em alguma obrigação que seja de preocupação, esta sendo das camadas de sentido, operando entre arte, cultura, ideologia, política – iriamos no quesito de articular conjuntamente as potências de preocuparmo-nos com um bem-viver no globo, articular com ideologias que promovem um harmonia entre seres humanos e mais-que-humanos na terra.4 Valorizar, em defesa, um debate e um interesse por cultura e arte na sociedade.5 A articulação em defesa do corpo e de suas potências, nos sentidos a performances de gênero, sexualidade, em desvencilhamento das amarras repressivas que estruturam gênero e sexualidade nas estruturas condicionantes sociais. Mas, sobretudo, ter a ver o que a Arte tem para com esses debates. No sentido de articular um parâmetro do grau, intensidade, nível e profundidade que ela se insere nas subjetividades que estruturam essas lógicas nas amarras e tramas das paisagens culturais contemporâneas. Compreender as tramas da arte, da cultura, das narrativas, da própria semiótica crítica e da política e como elas se engendram – vendo que o papel de uma articulação de pesquisa situada e gregária de arte e cultura pode ir para o encontro de todas essas condicionantes e ter para com estas significados, importância, impacto e valor.

 

Notas

  1. A produção artística, e veremos melhor mais a frente, estará sempre atada às condicionantes sociais – nada é gratuito e não localizado. Essa consideração seria o cerne do que consideramos aqui
  1. Mesmo que através de uma linguagem fabulativa.
  1. Isso ainda trata-se da estrutura, mas quais são os parâmetros que deseja-se infiltrar na dada estrutura? (Se caso não questionemo-nos do porquê estamos fazendo algo, tornamo-nos passíveis de que esse algo que estamos fazendo esteja operando uma máquina perversa e enfeitiçada maior em regulagem das hegemonias e controles de poder estratificados na sociedade)
  1. Isso são scripts, mas o que não são?
  1. Isso já não existe? É da nossa advocacia que nos preocupemos com estes?
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia 1. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2011. (Coleção TRANS).

PRECIADO, Paul B. Texto junkie: sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica. Tradução de Maira Paula Gurgel Ribeiro; com a contribuição de Verônica Daminelli Fernandes. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.

HARAWAY, Donna. Ficar com o problema: fazer parentes no Chthuluceno. Tradução de Ana Luiza Braga. São Paulo: n-1 edições, 2023.

ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. Porto Alegre: Sulina; Editora da UFRGS, 2011.