Por: Crisia, Giovanna Bretas, Jackson Cardoso e Sofia Reis.

Panorama Geral do Diálogos transdisciplinares / Quarta, 19 março 2025.
Um espaço que é a porta de entrada para múltiplos caminhos de interseções entre arte, ciência e tecnologia, este define o Diálogos Transdisciplinares, realizado em 19 de março de 2025 na galeria de arte MetaGallery. Com o galerista Byron Mendes, Introduziu o diálogo: “esse é um lugar de acessibilidade e compartilhamento do conhecimento”, inclusive, agradeceu pela presença e desejou maior utilização do espaço por todos nós, artistas, pesquisadores, pensadores e público.

Nesta edição, Malu Fragoso, coordenadora do Nano e artista-pesquisadora, foi a mediadora do diálogo, apresentando Fabiane M. Borges, pesquisadora em Arte Espacial e Arte Oceânica, dentro do eixo arte, ciência e tecnologia e também a professora da UFRJ, Cila Mac Dowell, Artista Multimídia com formação e experiência na área de Artes audiovisuais. Com foco em vídeo e novas mídias, mas sempre desenvolvendo e agregando diversas técnicas como desenho, performances, escultura, instalação e cenografia.
Atualmente tem apresentado performances com projeções, manipulando e alterando ao vivo o conteúdo audiovisual, investigando a experiência artística como desenvolvimento de percepções que ela chama de trans-sensoriais, que transpassam as barreiras das sensações nos fenômenos do corpo em relação com as novas tecnologias.
Cila Mac Dowell iniciou sua fala expondo seu trabalho realizado coletivamente com alunos em aulas: a mostra virtual chamada “Metaplasma – Lab 01”, no ambiente expositivo tridimensional do New Art City. A professora doutora ressaltou a importância do trabalho poético coletivo no âmbito acadêmico, no qual tem potencial para atenuar o diálogo crítico em volta das obras e gerar resultados surpreendentes. Também relacionando a dificuldade que é tecer uma proposta coletiva, onde cada um trás seus interesses pessoais. Como encontrar um discurso comum, que atravesse todas as abordagens?
Dentre suas pesquisas citadas, podemos destacar seu estudo em integração telemática, discutida por Roy Ascott, como a noção de Abraço Telemático e o Compartilhamento de Consciência, ressaltando a importância das tecnologias do corpo. Além de se referenciar nos Corpos informáticos e a noção de afeto abordada por Bia Medeiros. Uma experiência na arte entre o material e o sutil, discutida por meio da telepresença.
Baseados nas práticas de pesquisa em percepções trans-sensoriais de Ganzfeld, Cila apresentou seus trabalhos desenvolvidos como Protocolos de Telepatia. Em sua pesquisa, trata a telepatia a partir do conceito no campo das relações humanas em seu aspecto ancestral, correlacionando com a tecnologia. E para a artista-pesquisadora, resgatar tecnologias ancestrais poderia ser uma chave no campo da arte. Assim, a partir de sua pesquisa Cila apresentou uma instalação multimídia onde foi experimentada a telepatia em um campo social e experimental.
Além disso, outras obras foram citadas pela artista-pesquisadora: as práticas de performance de sua persona artística Cecília Spell, onde era experimentada a telepatia em um fenômeno coletivo através de performances com Plasma Ressonante.

Por fim, destacamos a mini Oficina das Máscaras Fabulações Distópicas, um trabalho de Realidades Híbridas realizado na Semana da Tecnologia no CT/UFRJ. Evento de público a maioria de crianças de Escolas Públicas, ela descreve a experiência como algo que gerou interesse das crianças, que queriam se aproximar, desenhar e interagir com a tecnologia de captura facial, onde novas máscaras apareciam em seus rostos na tela. Em suma, a pesquisa abordou futuros distópicos relacionados com as tecnologias, onde estamos cada vez mais mascarados e com nossas visificidades deturpadas pelos meios técnicos, tornando-nos mais imbricados, conectados e dependentes dessa relação humano-tecnológica.
Segundo Cila, “foi um excelente encontro muito transformador entre o público e o grupo de pesquisa”. Foram mais de 300 crianças por dia, onde muitas não têm acesso a tecnologias. Segundo a professora, o contato com o público pode ser uma chave para as pesquisas mais densas das universidades.
Com propostas artísticas transdisciplinares como a arte multimídia de Cila Mac Dowell, por meio da intersecção entre a arte, ciência e tecnologia, é possível construir cenários a favor da educação e inclusão tecnológica.

O diálogo prosseguiu com a convidada Fabiane M. Borges, que iniciou seu diálogo entusiasmada com a Mostra Nacional de Cripto-Arte – Década dos Oceanos realizada no CCBB-RJ (2023) e CCBB-SP (2024) com produção do galerista Byron, presente, elogiou a exposição e a relacionou à temática com suas recentes pesquisas. Ressaltou o motivo que estamos na Década dos Oceanos e a importância desse debate no meio contemporâneo. Sua fala centrou-se no projeto de Arte e Ciência Oceânica que está sendo realizado no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo.

Um dos seus interesses de pesquisa envolve a problemática do oceano, sobretudo, em pensar e desenvolver uma cultura oceânica. Ou seja, criar uma consciência social a respeito da atual situação emergente que se encontra o oceano para ecossistemas dos quais as ações humanas estão profundamente atreladas. Nesse contexto, Fabiane busca pensar a regeneração marítima por meio de uma estética crítica e propositiva dos mares e não apenas representativa.

A partir disso, Fabiane M. Borges mostrou um pouco da pesquisa do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, onde no momento, atua em um acompanhamento constante da pesca da região paulista e da cultura caiçara. São diferentes laboratórios, dos quais ressaltam a importância das análises de plânctons e dos tanques de camarão. Estes, interseccionam diferentes meios que um trabalho oceânico pode envolver, no que diz respeito às poéticas contemporâneas e suscitam trabalhos relacionados com temáticas tais como subjetividade oceânica, regeneração de ecossistemas marinhos, oceanopolítica, entre outros.
Segundo a pesquisadora, o projeto transdisciplinar fomentado pelo instituto, visa colaborar, em meio a onda aceleracionista, barrar forças de interesse exploratório nas regiões oceânicas brasileiras, em defesa do equilíbrio marítimo. A geopolítica, a filosofia da ciência e os debates da arte andam juntas para encontrar maneiras de impulsionar o ativismo no Ocidente.
Ao pôr em destaque uma ciência transdisciplinar como proposta de regeneração, objetiva-se a redução do mecanismo predatório. Interconectada à mentalidade oceânica com o reconhecimento das diversas riquezas que estão no mar, por meio de uma interconectividade que aflore a nova subjetividade oceânica. Portanto, Fabiane M. Borges, defende a necessidade de um esforço intenso por novas perspectivas sociais, epistemológicas e estéticas frente a contemporaneidade.

Desde o período das navegações, criou-se um mundo espectral amedrontador das águas marinhas, o qual ainda insiste em perpetuar no inconsciente coletivo até os dias atuais. Segundo a pesquisadora, a subjetividade oceânica relaciona-se com nosso pensar a natureza: é um senso comum muito atrelado a uma ecologia da terra, e anula-se o meio aquático e a biologia marinha. Nesse sentido, como a arte pode criar diálogos dentro desse contexto?
Por isso, os trabalhos no instituto evidenciam uma concretude. Usa-se sondas, boias, dados estatísticos, ou seja, diversos elementos que não são apenas materiais de estudo científico, bem como possibilidades artísticas, as quais levam a pergunta: o que vamos fazer com esse material? Surgem assim, uma expressão poética a partir deles, os quais buscam, segundo Fabiane M. Borges, evidenciar a criação de novos imaginários, para renovar um cardápio imaginário que nos é comum.
Portanto, é uma necessidade urgente, as quais devem-se concentrar numa visão otimista das possibilidades de um imaginário oceânico. Assim, como uma contribuição para o presente cenário, que inclusive, causa o crescimento de recentes problemas psíquicos como a ansiedade climática, a pesquisadora divulgou o lançamento em parceria com o instituto, uma chamada aberta de três editais que objetivam: Ocean Week em São Paulo e outra edição no Rio de Janeiro, promovidos pela Galeria Laço, e a chamada online “All arts, one Ocean” – Subjetividade Oceânica.
Embora exista uma onda regenerativa do oceano através desses projetos, a pesquisadora pontuou a dificuldade do apoio e permanência dos laboratórios, principalmente de pesquisas transdisciplinares de arte, ciência e tecnologia no Brasil. Por isso, é preciso uma luta constante para se ocupar o espaço da arte e do campo científico tradicional, pois é muito cômodo ser apenas divulgador científico e não é esse o objetivo. Portanto, é urgente reforçar uma atitude artística, comparada à lógica do hack, de conseguir se infiltrar no sistema e trazer de fato mudanças para o cenário atual dos oceanos.
