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Conjugações Inventivas na Subjetividade

A perspectiva metodológica de pesquisa e desenvolvimento aqui apresentada parte da investigação da natureza metafísica, ou mórfica, do processo interrelacional de sentidos narrativos que se dão nas conjunções que se atravessam em enleamentos semióticos ao redor do nosso ecossistema vibrátil do laboratório NANO. Que, por sua vez, é um objeto parcial de um conjunto maior, operando em intensidades que reverberam ao redor de saberes e fluxos de energia que trasversalmente formam tramas em suas mais diferentes formas, matérias e significados (ontológicos, políticos, ideológicos, existenciais, e mais por vir) dentro dos contextos acadêmicos, institucionais, culturais, artísticos e científicos aos quais se articula.

Tratamos do tecer desses paradigmas, com seus repertórios, um processo investigativo de exploração e produção artística. Onde faz parte do jogo as produções de sentidos que se distribuem, articulam e conjugam a entidades nos parâmetros de nossos territórios. As constituições fabulativas desses desenvolvimentos são, por sua vez, os órgãos essenciais de nosso corpo de pesquisa. Tanto na construção de sentidos: teorizando e re-modelando as estruturas ontológicas das substâncias elementares que constituem-se nos cernes de significados que se agenciam nessas máquinas relacionais e inter-institucionais; como reterritorializando a partir de um trabalho também de curadoria e modelação com sentidos, formas, narrativas e imaginários considerados potentes e relevantes para se trabalhar na nossa dada situação.

Atravessamo-nos com a perspectiva de Deleuze & Guattari ao tratarem da consciência como uma fábrica no campo social, onde o desejo é produzido em um processo maquínico, e sobretudo nossos fluxos são conceituados por uma perspectiva econômica: de distribuição, circulação, consumo e produção. Suas pesquisas da esquizofrenia como processo nos influenciam a desdobrar os acomplamentos do desejo como fluxos que se conectam entre indivíduos e criam intensidades dados os agenciamentos que são com estes sintetizados e registrados sobre as superfícies de inscrição situadas, atribuindo as forças produtivas e os órgãos de produção suas configurações engendradas sobre um sistema que articule, desmembre e faça trabalhar essa energia.

Enredamo-nos, também, na leitura das figuras de barbante da filósofa, bióloga e crítica cultural norte-americana Donna Haraway. Redes de fibras agenciais em uma comunidade de prática que se tece entre-indivíduos, em sistemas sintrópicos de construção, harmonia e desenvolvimento coletivo. Onde as trocas de saberes, técnicas e vivências são procedimentos formativos de nossa consciência social e de pesquisa nas constelações do laboratório e em suas redes simpoiéticas valorizando a evolução desses sistemas, também intrincadas com possíveis desenvolvimentos entre novos agenciamentos no mundo. A autora também nos ensina a pensar-com diferentes espécies, dando ênfase para o mundo vegetal, animal, microbiótico e abissal, preocupando-nos com um caráter de responsabilidade ecológica no desenvolvimento epistemológico.

Desdobramo-nos, além disso, a partir do filósofo queer Paul Preciado para pensar corpo, gênero e sexualidade como formas de subversão de um território performativo da arquitetura da subjetividade. Sua maneira de pensar nos inspira a refletirmos sobre o papel da biopolítica na constituição vibrátil de nossas práticas, além de que seu repertório semântico nos ajuda a entrar em contato com impulsos de produção de sentidos a partir de nossos desejos, constituindo uma força de produção chamada orgásmica, como fonte de prazer em uma estrutura econômica com a qual podemos, inclusive em um âmbito tecnológico, hibridar com as máquinas e seus funcionamentos, realizando acoplamentos entre sensações, afetos, moléculas e, inclusive, com a própria natureza multiespecífica que nos circunda.

Por fim, nossa pesquisa se nutre da perspectiva cartográfica da filósofa e psicóloga brasileira Suely Rolnik, junto da qual entendemos as paisagens e campos psicossociais micropolíticos como realidades capazes de transgressão, experimentação e reconfiguração a partir de um trabalho perceptivo associado com práticas terapêuticas e políticas, enfatizando, inclusive um aspecto de reeducação da sensibilidade, constituição de um território existencial e criação de mundos sobre uma abordagem cultural orientada matéria vibrátil que constitui nossa subjetividade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia 1. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2011. (Coleção TRANS).

PRECIADO, Paul B. Texto junkie: sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica. Tradução de Maira Paula Gurgel Ribeiro; com a contribuição de Verônica Daminelli Fernandes. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.

HARAWAY, Donna. Ficar com o problema: fazer parentes no Chthuluceno. Tradução de Ana Luiza Braga. São Paulo: n-1 edições, 2023.

ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. Porto Alegre: Sulina; Editora da UFRGS, 2011.