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BOT_anic

híbrido / planta-robô

BOT_ANIC / 2013

Planta, mecanno, Arduino, motor, shield customizado, led RGB

BOT_anic resulta da criação de um híbrido, planta/máquina, que dá continuidade às investigações de processos com base no entrecruzamento de organismos naturais e artificiais no campo da arte. Esse projeto deriva do trabalho Breathing (2009), que deu origem aos métodos e procedimentos que vêm sendo aplicados em minhas mais recentes criações. Tais projetos investem no uso de plantas como agentes sensíveis para constituição de uma experiência artística. Assim como em Ephemera (2008), Equilibrium (2008) e Breathing,BOT_anic estabelece sua poética a partir de uma relação afetiva entre o observador, a máquina e o organismo vegetal, inter-relacionados de forma sistêmica.

Em BOT_anic uma pequena Jibóia (Epipremnum Pinnatum) é monitorada quanto à condutividade (resposta galvânica) de duas de suas folhas, que funcionam como sensores orgânicos para a orientação direcional de um pequeno robô. As variações eletrofisiológicas ocorridas nas folhas dessa planta são amplificadas e enviadas a um microcontrolador, que analisa os dados e ativam estados diferenciados na máquina. São basicamente dois estados: repouso e interação planta/observador. 

Quando encontra-se em repouso o híbrido tem um de seus estados ativados no qual um sensor de luz analisa estados de luz ambiente e envia os dados para o sistema de forma que o robô possa conduzir a planta até a fonte luminosa de maior intensidade. Ao se aproximar da luz o sistema entra em repouso. O segundo estado, que deriva das interações com observador, faz com que o robô saia de seu estado de repouso e se mova em direção ao mesmo. Isso ocorre quando o observador expira próximo a uma das folhas. O ato de expirar faz com que ocorram variações eletrofisiológicas na superfície da folha monitorada e uma diferença de potencial elétrico apareça no sistema. A partir desses dados, o microcontrolador calcula os valores e aciona os motores do robô para levar a pequena planta em direção ao interator. Caso a interação cesse, o sistema volta a seu estado de repouso, buscando a luz e retornando o híbrido a seu local de origem.

Plantas e sistemas artificiais como arte

Quando plantas e máquinas são acopladas de forma híbrida para constituição de uma obra artística devemos pensar tal complexo como um sistema, e como tal, considerar a interação de suas diversas camadas significantes. Em BOT_anic plantas são incorporadas ao sistema levando-se em conta sua significação do ponto de vista popular, científico e pseudocientífico. São tais camadas conceituais, entrelaçadas de forma sistêmica às funcionais, que ressoam à fruição do observador. A experiência de BOT_anic coloca o observador em um lugar instável, que é o lugar criado pela arte. O observador confronta um organismo que resulta de uma colagem sistêmica entre elementos naturais e artificiais, cujas camadas de significação se articulam sinergicamente para prover ao observador uma experiência sensível.

 A obra de arte pode ser assim pensada como um nó de informações através do qual o observador pode ressoar ao artista através de uma interligação poética, afetiva. A obra se vale do comportamento natural da planta, na maioria das vezes ignorado pelos nossos sentidos, e os projetam numa dimensão ampliada. Ao interagir com as folhas vegetais o participante dessa experiência não estará apenas ativando as funções automatizadas de uma máquina híbrida, mas, acima de tudo, gerando por meio de sua presença uma relação afetiva que decorrerá de sua interconexão ao sistema. Com base nessa relação algumas questões podem ser formuladas: Como somos percebidos pelo híbrido, para além de suas funções maquínicas? De que forma as plantas nos sentem e se transformam diante dessa novas ecologias? Como essa experiência afeta a nossa consciência sobre plantas, humanos, máquinas e o ambiente em que vivemos? Questões improváveis são amplificadas por esse sistema com o qual nos relacionamos numa experiência sensível. Mesmo não havendo respostas concretas para tais questões, elas alimentam o universo da arte. Elas abrem o horizonte para novos diálogos com o mundo em que vivemos, dissolvendo nesse sentido antigas dicotomias ao levar em consideração objetos técnicos, não como uma ameaça contra a natureza mas, de acordo com Simondon, como possíveis “mediadores entre o homem e a natureza” (Simondon, 1980, p.1). A partir destes diálogos improváveis, contextualizados na experiência da arte, novas ecologias em curso têm sido mapeadas, assim como os homens e suas invenções avançado em direção a novos territórios.

SIMONDON, G. On the Mode of Existence of Technical Objects. English translation of “Du mode d’existence des objets techniques”. London: University of Western Ontario. [1958] 1980.

Rider Técnico

Postagens sobre o projeto