Mediação: Paula Scamparini
“… Das narrativas à auto-paisagem: palavra e imagem enquanto pensar-fazer artístico”
Do acaso às ‘experienciações direcionadas’, a prática artística exercita-se no encadear cotidiano do fazer e do pensar arte. Transversalmente às narrativas que formaram muito da concepção de arte através da história da arte, a integração já detonada e em prática entre as formas de produzir arte trazem questionamentos que retornam à narrativa, porém desta vez enquanto ela mesma matéria para a construção artística.
Por crer que a compreensão humana de mundo, à primeira vista e sempre adquirida sobretudo pelo ‘ver o mundo,’ seja apreendida também pelo processo de construção que a linguagem nos lega, os processos narrativos se fazem naturais no pensar-arte. O processo de construção em narrativa indica o interesse artístico na formulação que, uma vez apreendido o mundo em imagem, experienciações reverberam-se em aprendizado, ou seja, transformam-se, através de afetos, em memória.
As narrativas, porém, trazem consigo algo duma relação explícita do processo-arte com o próprio ser-artista, e deixam ver a intimidade desta construção. É através da observação dos percursos e experiências do artista, que emergem no fazer artístico formas narrativas visuais e textuais, entrecruzadas ao processo de perceber mundo e do pensar-fazer arte. A arte como vida ou a vida como obra de arte, guardadas suas especificidades, tornam-se mais visíveis e a figura do artista emerge muitas vezes enquanto retratado.
Propomos pensar, porém, a materialidade deste possível retrato, que se forma enquanto corpo não representativo, através das experiências que este corpo como um todo vivencia. Assim , ao que entendemos, são as ‘paisagens experienciadas’ em ‘apreensão cotidiana de mundo’ que compõem a matéria prima deste fazer. Fazer que propõe uma construção processual do que nomearemos aqui ‘auto-paisagens’, formuladas a partir das narrativas alongadas em palavra e imagem.
Assim, partindo da proposição de que somos formados por nossas próprias paisagens, adquiridas através do acúmulo de vivências-experiências, deseja-se discutir nesta mesa a prática artística dedicada à construção de narrativas, e seus possíveis desdobramentos em autorretrato, ou auto-paisagem, passando por questões que dialoguem com o processo de pensamento descrito, e que nos enriqueçam em conceitos, aprendizado e, sobretudo, experiência.
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Alberto Pucheu
poeta e professor de Teoria Literária da UFRJ (pesquisador do CNPq) autor de diversos livros de poesia e teoria, sendo o mais recente A fronteira desguarnecida (poesia reunida 1993-2007), e Pelo colorido, para além do cinzento – A literatura e seus entornos interventivos , ambos pela Azougue Editorial, 2007
Roberto Correa dos Santos
professor de Teoria da Arte do Instituto de Artes da UERJ, publicou livros diversos relativos ao fazer artístico contemporâneo, sendo o mais recente, de 2011, publicado pela Editora Circuito, em parceria com Renato Rezende: No contemporâneo: arte e escritura expandidas.
Paula Scamparini
Doutoranda em Poéticas Interdisciplinares, com Mestrado em historia da arte na mesma instituição e Graduada em artes pela Unicamp.